andreza spinelli ballan
1 min readJun 5, 2024

eu sinto como se a vida me servisse um banquete em travessas e talheres de prata. na mesa, uma toalha branca adornada com bordados brancos, castiçais grandiosos, velas igualmente grandiosas, pratos quentes, guardanapos de pano, um lustre de cristal baccarat no teto. eu sem roupas para vestir.

sinto como se, depois de 30 anos vivendo em profunda agonia, a vida finalmente me servisse um jantar suculento e farto em sua diversidade de pratos, com todas as etapas de um menu sofisticado. mas sinto também que ela me tirou os dentes e os dedos, eu sinto que o prazer está servido para mim, somente para mim, especialmente para mim, a pessoa que não sabe o que fazer com ele.

a vida está me servindo tudo que eu desejei comer desde os anos mais primários da minha juventude, em pratos que nunca me chegariam, pratos que eu não poderia pagar, pratos que eu imaginava, mas nunca tive certeza se existiam ou não.

nessa mesa abundante eu me sento e sinto mais vontade de fumar cigarro do que de comer.